sábado, 14 de maio de 2011

A perspectiva analítica de Mário Bunge

Pesoal, eis mais um trecho da síntese do texto de Cupani. Leiam com atenção e nos ajudem participando inserirndo seu comentário sobre o texto e a pergunta apresentadas aqui.
Desde já agradecemos sua participação!

Alberto Cupani
Síntese por Djalma Gonçalves Pereira

A perspectiva analítica de Mário Bunge
Bunge apóia-se no historiador Lewis Mumford para definir técnica como o controle ou transformação da natureza pelo homem, o qual faz uso de conhecimentos pré-científicos, sendo assim a tecnologia consiste na técnica de base científica.
Seja técnica ou tecnologia, essa atividade exercida pelo homem produz um “artefato”, que na visão de Bunge, não precisa ser um coisa palpável como uma bicicleta ou remédio, pode ser simplesmente uma modificação de estado de um sistema natural como por exemplo, um rio desviado de seu curso natural, ou ainda a transformação de um sistema como por exemplo, ensinar uma pessoa a ler.
Nos casos citados Bunge acredita que uma forma de trabalho classificada como técnica , opera utilizando de recursos naturais como o cérebro ou troncos de árvores para ao transformá-los produzir novos produtos e resultados diferentes em sistemas conhecidos.
Para Bunge, algo artificial é “toda coisa, estado ou processo controlado ou feito deliberadamente com ajuda de algum conhecimento aprendido, e utilizável por outros” (Bunge, 1985a, p.33-4).
Podemos ainda encontrar outra definição de Bunge que diz: “Um sistema concreto ou material é um artefato se, e somente se, cada um dos seus estados depende de estados prévios ou concomitantes de algum ser racional” (Bunge, 1985b, p.223).
Sendo assim, podemos tomar “artefato” como qualquer interferência do homem que altere o estado de um sistema como, por exemplo, a cura de um paciente, a formação de uma equipe de trabalho, ou mesmo, a construção de armas atômicas, por isso, não é possível mensurar se um artefato é bom ou ruim.
Com a noção de artefato conhecida, agora partiremos para outra noção que caracteriza a técnica e a tecnologia, ela é a característica da planificação, onde tendo um objetivo conhecido, ou seja, o artefato é concebido primeiro como ideia, procura-se sistematizar por meio de conhecimentos já disponíveis, meios de produzir o objetivo primeiro, o artefato.
Neste processo a técnica recorre ao saber vulgar, esvaziado de saber científico. Enquanto a tecnologia serve-se do saber científico, como dados, leis e teorias.
Nas produções técnicas ou tecnológicas os elementos são vistos como recursos, sendo valorizadas genericamente do ponto de vista de utilidade para se adequar a cada necessidade do processo de construção do artefato.
Normas estáveis de comportamento são geradas com o uso das técnicas e tecnologias, pois ambas fazem uso de regras, instruções em um determinado número finito de ações em uma ordem pré-determinada, sendo que sem elas, nenhum artefato funcionaria ou seria passível de utilização por outros, como é estabelecido para os artefatos.
Outro motivo do uso de regras para as ações técnicas e tecnológicas são relacionadas a necessidade de sua eficiência e economia que lhe é característica.
Essas ações são essencialmente racionais, orientadas para garantir o sucesso do processo.
Podemos observar por um prisma que nos apresente a evolução humana embasada e propulsionada pelo desenvolvimento da técnica ao longo da história, tornando-se a técnica condição primeira para o processo evolutivo da raça humana. Nesse contexto a tecnologia vem como resultado da aceleração desse processo evolutivo provocado pela técnica.
A tecnologia se faz existir a partir do momento em que o homem questiona a fundamentação teórica da técnica aplicada, na busca do conhecimento científico à solução de problemas práticos.
Isso nos leva a definir que a tecnologia é o estudo científico do artificial.
Para Bunge não há tecnologia em artefatos onde o homem não se questiona em sua base teórica ou busca seu aperfeiçoamento, visto que a tecnologia se caracteriza como campo de conhecimento quando obedece a essa estrapolação do conhecimento.
Ao desenvolver um projeto tem-se ai a representação antecipada de um artefato, em uma apresentação que presume algum conhecimento científico, mas não podemos perder de vista que o propósito do projeto é criar um sistema funcional que desempenhe efetiva e eficientemente funções úteis determinadas pelo homem.
Podemos citar como exemplo de sistemas desse tipo artefatos tais como máquinas, que são sistemas não viventes projetados para auxiliar em algum tipo de trabalho.
A planificação dos dados ou projeto é a definição das rotinas e sub-rotinas necessárias para se alcançar o objetivo proposto, alterando o estado do sistema até o ponto desejado.
Nesse sentido a planificação tecnológica repousa no conhecimento científico, tratando de leis ou fragmentos de teorias que são traduzidas em enunciados nomo-pragmáticos, fundamentando regras práticas.
Vamos entender com um exemplo.
A lei da física, que é um enunciado nomológico, afirma que a água ferve a uma temperatura de 100°C, isto fundamenta outras regras tecnológicas, tais como, para ferver a água, aqueça-a a temperatura de 100°C, ou, para evitar que a água ferva, mantenha sua temperatura abaixo de 100°C.
Para Bunge, a tecnologia não pode ser simplificada a utilização de conhecimento científico, mas deve instigar a busca pelo conhecimento específico, dando origem à novas teorias tecnológicas. Estas podem ser caracterizadas em dois tipos, são elas: substantivas, que é aquela que provê conhecimento sobre os objetos da ação, que pode ser exemplificada, por exemplo, em uma teoria sobre o vôo, ou ainda, operativas, que são as que discursam sobre as ações de que depende o funcionamento dos artefatos, como uma decisão que otimize o trânsito aéreo de uma região.
Sendo assim, nas teorias substantivas, são aplicadas teorias científicas em situações reais.
As teorias operativas são mais diretamente tecnológicas, pois está presente desde o início da ação prevista, como por exemplo, na operação de uma máquina pelo homem.
Nos caos exemplificados o homem pode unir a tecnologia a conhecimentos ordinários, elementos da ciência formal e certos conhecimentos especializados não científicos, como quando pilota um avião, por exemplo, o conhecimento especializado não científico está presente, por exemplo, na teoria da decisão, denominada assim por Bunge.
Devemos destacar que essa separação entre as tecnologias não se torna um problema, pois as tecnologias são predominantemente substantivas ou operativas, dependendo do caso de sua aplicação.
“A tecnologia pode ser vista como a concretização da ação plenamente racional” (cf. Bunge, 1969, p.684;1985b, p.239)
Bunge defende ainda que quanto mais racionais forem o pensamento e as ações humanas , melhor poderá ser, em principio sua vida. Bunge confia que todos os problemas práticos humanos podem ser formulados tecnologicamente resolvidos, obtendo assim uma solução adequada que fundamente na ciência e na tecnologia esse sentido otimista bungeano que chega a ser uma possível engenharia social aplicada.
A engenharia social para ser efetiva deveria ser sistêmica e não fragmentária, produzida por equipes interdisciplinares e discutida democraticamente.
Bunge afirma que o desenvolvimento tecnológico tem causado inúmeros males e problemas, posto que até as invenções vistas como positivas comportam circunstancialmente conseqüências negativas.
Bunge rejeita a idéia de que a tecnologia é autônoma, pois depende de seres humanos para operá-la, controlá-la e viabilizá-la, a tecnologia fica assim sujeita a interesses e propósitos.
Muitos dos excessos e extravios tecnológicos são para Bunge, derivados do código moral implícito no uso da tecnologia. Esse código separa o homem do resto da natureza, autorizando-a a submetê-la e isentando o mesmo homem “superior” de suas responsabilidades.
Para combater essa situação Bunge defende uma ética que aponte as responsabilidades naturais da inovação tecnológica, mas que tudo, Bunge defende uma democracia integral, participativa e cooperativa, chamada de “holotecnodemocracia”, situada em um desenvolvimento tecnológico verdadeiramemte a serviço de todos.


Nossos questionamentos:
1 - A pesrpectiva analítica de Bunge é aceitável a luz das tecnologias encontradas nos dias de hoje?
2 - É utópia a holotecnodemocracia?
3 - Na perspectiva analítica o artefato, as teorias substantivas e operativas são pontos chave para compreensão de suas ideias? Se sim, defina o motivo.
4 - Você aceita a ideia de Bunge de que esta perspectiva é um tipo de engenharia social? Se sim, explique.


Obrigado por participar conosco de nosso crescimento!

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