quarta-feira, 18 de maio de 2011

A Galáxia Internet: Reflexões sobre Internet, Negócios e Sociedade

Capítulo do livro “A Galáxia Internet: Reflexões sobre Internet, Negócios e Sociedade".
Autor: Manuel  Castells


Multimédia e Internet:
O hipertexto para lá da convergência
A alusiva caixa mágica


 Por Betânia Magela Pereira Silvoni                       

Na década de 90, futurólogos, tecnólogos e magnata mediáticos, perseguiam o sonho da convergência entre computadores, Internet e media. A palavra-chave era multimédia, materializada na caixa mágica que colocaríamos na sala de estar de nossa casa e que, seguindo as nossas instruções, nos abriria uma janela global para infinitas possibilidades de comunicação interativa em formato de vídeo, áudio e texto. Entre 1998 e 2000,  a Microsoft  fez um investimento dez milhões de dólares em empresas de cabo por todo o mundo assentando as bases para o controle do mercado da nova tecnologia de software encarnada no futuro descodificador interativo de televisão..  Este sonho foi adiado, pois   não consegui entregar  o software no tempo previsto. 12 de janeiro de 2001, a autoridade reguladora dos EUA, a FCC- Federal Communications Commission, aprovou a fusão da AOL e Time Warner, avaliada em 100 milhões de dólares, considerada como a base empresarial para que se cumprisse a promessa multimédia. Ainda assim, as provas comerciais da convergência de meios levadas a cabo desde o começo dos nos 90 acabaram em intenções falhadas, principalmente no aspecto tecnológico que respeita ao vídeo. Owen, em sua análise comentada sobre o tema, enumera:
  • A emissão de sinais de televisão através da  Internet, não era possível com a largura de banda e a tecnologia de compressão disponíveis no ano 2000, mas será tecnologicamente possível na primeira década do século XXI.
  • A transmissão por Internet e a inclusão em páginas Web de informação de vídeo é já uma prática habitual.
  • A televisão pode utilizar-se como terminal e ligar-se à Internet através de um computador e de uma linha telefônica( o conceito de WebTV).
  • O intervalo entre sinais de vídeo emitidos(por ondas ou por  cabo) pode utilizar-se para  transmitir informação aos computadores pessoais, incluindo acesso à Internet(por exemplo, o Intercast da Intel).
  • É possível transmitir páginas Web através de linhas telefônicas a um ecrã de televisão para proporcionar informação complementar(por exemplo, Gateway 2000 ou Net TV).
  • A informação transmitida através da Internet pode coordenar-se com a emissão convencional de televisão através de servidores suportados por emissoras de televisão, com visualização em diferentes monitores.
  • A comunicação por cabo ou sem fios pode utilizar-se para transmitir conteúdos de Internet a computadores. A Microsoft, em colaboração com a ATT, apostou numa grande companhia de cabo, a MSO, que utiliza ligações de modem cabo e descodificadores que funcionam com o software da Microsoft.
  • Pode transmitir-se pela Internet material não videográfico de banda estreita, possibilitando a disponibilização de ícones de animação nas páginas web, tais como o software Dynamic HTML.
  • Os canais de televisão podem utilizar-se, quando não estão a emitir, para transmitir informação, vídeo incluído, a dispositivos de armazenamento aos quais se pode aceder a partir de um computador.
Owen, recorda-nos  que atualmente  todas estas alternativas citadas, exceto a primeira, estão em fase de experimentação.
Para Bob Pittman, diretor operacional da AOL- Time Warner, o mundo dos media está a atravessar uma extraordinária transformação, tornando-se global e encontrando economias de escala  e sinergias entre os diferentes modos de expressão. A emissão pos satélite e a televisão digital estão em franca expansão por todo o mundo, especialmente na Europa. Constata-se que  nos Estados Unidos entre 1985 e 2000, os jovens norte-americanos, menores de 18 anos reduziram em 20% o número de horas em frente ao televisor. Esta mudança atribui-se em parte ao fato de os jovens passarem cada vez mais tempo  a navegar na Internet e o  setor de cabo está investindo somas inéditas para conseguir difundir todo o tipo de conteúdos para qualquer lugar.
A rádio está vivendo uma era do renascimento e está transformando no meio de comunicação mais difundido do mundo. E o mundo da edição de livros continua também em expansão.
O nível de convergência entre a Internet e os multimédia é muito limitado e portanto, não há nenhuma interatividade, que é o fator-chave da projeção autêntica do futuro multimédia. E a que se deve isto? A largura de banda insuficiente. No ano 2000, menos de um quinto dos lares norte-americanos tinha acesso à transmissão DSL,- digital subscriber line.  A largura da banda que era disponível a eles era muito pequena em relação aos habitantes que tinham acesso. Par que este quadro mudasse, era necessário um investimento extraordinário de milhões de dólares por parte das companhias multimédia e de comunicação. As experiências desenvolvidas em meados  dos anos 90 demonstraram que os consumidores não estavam dispostos a pagar mais dinheiro para aumentar a sua seleção de vídeo dentro do mesmo gênero. O erro que cometeu o setor mediático foi pensar que a procura  de entretenimento era ilimitada, e que isto era a única coisa  que interessava aos consumidores, excluindo uma elite cultural cujos gostos se podia satisfazer com revistas de alto nível, exposições de arte subsidiadas e espetáculos de alta cultura.
A  AOL comprou a Time Warner.Na data em que por fim se conseguiu aprovar a fusão, os acionistas da Time Warner perderam valor em bolsa, A jogada estratégica foi cara, já que a AOL  sofreu perdas superiores  de milhões de dólares em 2000.
Talvez os visionários tecnológicos tenham razão e simplesmente tenham calculado mal o horizonte temporal das suas previsões. Afinal de contas, pode bem ser que a banda larga acabe por se implantar em todos os âmbitos da vida privada, que a tecnologia de compressão resolva alguns dos problemas de  transmissão  e que as pessoas  acabem percebendo  as maravilhosas oportunidades que oferece o nosso ambiente digital.
Para  o autor, a única maneira de entender a relação potencial entre a Internet e o mundo dos media é refletir sobre os únicos casos em que a sua integração funcionou nos finais do século XX.  


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